Sustentabilidade e recursos humanos

A sustentabilidade é um desafio para o RH, ou o RH é um desafio para a sustentabilidade? Falar que vivemos em um momento único ou de mudanças nunca vistas não é suficiente. Afinal, cada momento é, em si, apenas aquele e não haverá outro igual. Por que, então, ao invés de repetir os atos, processos e modelos do passado, não nos dispomos simplesmente a sentir o momento, olhar as pessoas e suas necessidades, entender os desafios e encontrar soluções que sejam perfeitas para o nosso tempo presente? Por que queremos sempre a estabilidade, ou, como eu percebo, a busca do não movimento? Uma das acepções de sustentabilidade é “termo usado para definir ações e atividades humanas que visam suprir as necessidades atuais dos seres humanos, sem comprometer o futuro das próximas gerações”. Para que isto seja verdade, é preciso refletir sobre todas as nossas ações com foco no hoje e no amanhã.
Acredito que, nas empresas, uma das áreas que mais se encontra parada no tempo é a de Recursos Humanos. Já parou para pensar que os princípios que norteiam os processos seletivos e os modelos de educação para o trabalho, só para iniciar a conversa, são iguais aos praticados há cem anos? Continuamos a selecionar do mesmo jeito: analisando o curriculum em vez de conhecer as motivações e talentos dos candidatos. Continuamos a valorizar a carreira de pessoas que gerenciam equipes mais do que carreiras técnicas. É comum promovermos um técnico e perder um excelente colaborador, ao mesmo tempo em que ganhamos um péssimo gestor.
Em recente pesquisa com presidentes de empresas, evidenciamos que eles mesmos percebem os processos atuais de RH como incapazes de responder aos desafios das organizações. Fica perceptível que a falência do modelo atual da área de RH está próxima, se é que já não está em curso. Você consegue imaginar o desastre que será, em um futuro próximo, se os profissionais de RH não começarem a refletir, avaliar, entender o cenário, as pessoas, e principalmente, buscarem constantemente o autoconhecimento?
Acredito que o caminho para a reinvenção não será simples. Se por um lado, temos processos de RH pouco eficientes para o momento atual das organizações e indivíduos, por outro, não temos novos modelos para seguir.
No entanto, isso não nos impede de ir adiante. Para iniciar, que tal experimentar uma reflexão sobre suas ações? Comece pelas mais simples:
O plano de carreira na empresa pressupõe que o indivíduo tenha poder de decisão para onde e quando lhe convier?
O espaço de conversa é aberto em todos os sentidos ou apenas nos períodos de pesquisa de clima anual ou a cada dois anos?
Desenvolvo processos que são flexíveis e adaptáveis de acordo com o público, local e atividades que ocupam?
Estou sempre avaliando se as políticas e, principalmente, as práticas internas estão a favor da qualidade de vida dos colaboradores e da estratégia do negócio?
Se você tem o privilégio de atuar em RH, convido-o a ser a mudança que quer ver no mundo. Assuma uma postura mais ativa. Desenvolva trabalhos que atendam as demandas dos líderes e colaboradores, não só aos processos internos de RH. Amplie seu repertório para além do que já conhece. Adote a busca pelo autodesenvolvimento uma pratica diária. Abandone o ato de buscar o poder guardando informações ou se fechando na sua mesa e passe a agir como agente de mudanças, ou melhor, de transformações.
Enquanto o futuro não chega, que tal contribuir com ele começando por se questionar: Como estou fazendo as coisas hoje? A serviço do que e para quem? Se está dando certo, continue. A minha provocação não é no sentido de se mudar tudo a todo tempo, e sim, para se refletir e pensar sobre o porquê das coisas. Reflita, sem medo, e se for preciso, crie algo novo. Amplie seu olhar e avalie o impacto de suas decisões para o amanhã.
O que você acha de começar este exercício amanhã mesmo? Que tal estabelecer para você mesmo a meta que nenhum candidato fique sem retorno de processos seletivos em sua empresa? Que tal se você passar a atender todos os candidatos na hora marcada, sem atrasos injustificáveis? Parece pouco, mas significa muito. Como diz o ditado, uma longa jornada começa com um primeiro passo.
Nenhum RH será sustentável se não cuidar primeiro do básico. Pequenas ações causam impacto e constroem marcas. Mãos à obra!

Denise Asnis é sócia-diretora da Oré Consultoria Educação e Desenvolvimento Profissional

Referência: http://www.portallank.com.br/sustentabilidade-e-saude/artigos/artigo-um/